Roda de Conversa baseada na troca de saberes marca a quinta edição do Sábado Agroecológico

Os relatos das experiências de Agricultura Urbana, Agroflorestal e das Unidades de Produção Agroecológica de Maricá são destaques na Roda de Conversa no Sábado Agroecológico.

Iranilde de Oliveira Silva | Ivolanda Magali

A quinta edição do evento “Sábado Agroecológico” foi realizada no dia 06 de novembro, na Praça Agroecológica Emilton Santos, em Araçatiba, Maricá – RJ. Um evento que compõe a meta de número 7 do Termo de Colaboração (TC) 018/2020 celebrado entre a prefeitura de Maricá via Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca e a COOPERAR. Esta meta versa sobre o diálogo com a sociedade e ampliação da visibilidade do trabalho em desenvolvimento.

Esta edição trouxe como tema a construção de possíveis diálogos entre os “Diferentes Sistemas de Produção Agroecológica”. Em formato de roda de conversa e com objetivo de conhecer/trocar experiências desenvolvidas em Maricá.

Como partilhas colaborativas contamos com a fala de Matheus Henrique que é agricultor Agroflorestal do Sítio Manuelzinho; Thayna Villa Real permissionária do Programa de  horta comunitária do loteamento Manu Manuela que fica no bairro de São José do Imbassaí; e Leonardo Schafer e Anna Carolina apresentaram os sistemas de produção de alimentos agroecológicos das unidades de produção Manu Manuela, e Joaquín Piñero; e  Sandra Gurgel uma agricultora urbana moradora de Maricá. A mediação deste momento ficou com a coordenadora pedagógica da COOPERAR, Ivolanda Magali. 

Registo do Sábado Agroecológico de Novembro. Foto: Ângelo Bernardelli / SECAPP

Troca de Saberes em Roda de Conversa

A riqueza do ambiente do Sábado Agroecológico está em oportunizar todos os presentes a partilha voluntariada de suas experiências, sejam elas de vida, de produção, de resgate e de fomento. 

Em uma roda de conversa em que todos os presentes puderam compartilhar suas experiências do presente, resgatar em suas memórias as histórias vividas na infância.  O cotidiano e suas percepções são bases fortalecedoras dos rumos que convertem as práticas produtivas em agroecológicas. Este dia a dia ocorre nos ambientes mais diversos, e como foi possível presenciar nos relatos ali postos, as famílias e suas estruturas de moradia são potentes ambientes de práticas agroecológicas.

Relatos como da companheira Aduni Benton que faz parte do Movimento Democrático Afro Descendente pela Igualdade e Equidade Racial (MOVIDADES) que participou do curso de Agroecologia da Cooperar, e participa ativamente dos Sábados Agroecológico, relatou emocionada que – com as mudas, e sementes recebidas nas edições anteriores, ela organizou uma pequena horta na sua casa e já colheu Rabanete, Alface, couve e trouxe muito afeto ao falar da perspectiva de colher seu próprio alimento.

O MOVIDADES é uma das instituições de interesse social que recebe alimentos produzidos nas Unidades de Produção Agroecológica, e Aduni ressaltou a importância da cesta verde de alimentos que atende a 40 famílias atendidas pela organização, e em sua fala levantou a demanda de cursos de capacitação para as famílias atendidas e integrantes do MOVIDADES possibilitando que possam também produzir parte de sua alimentação reforçando que: “ninguém pode passar fome”

Logo no início das colocações voluntariadas dos participantes sobre suas perspectivas e práticas, tivemos a participação de Matheus Henrique. Este convidado apresentou a agricultura regenerativa como ponto principal de suas ações produtivas. 

Este sítio era do meu avô e recebe o nome dele (Sítio Manuelzinho), lá temos boa parte da terra degradada pela prática de pastagens, por isso escolhemos este método produtivo para recuperar a vida do solo, da fauna e da flora local. Temos boa parte do terreno em aclive e durante um período longo de chuvas percebemos que não fomos atingidos pelo alagamento que muitos cultivos planos sofreram, inclusive com perdas da produção. Utilizamos a integração de diversos métodos de plantio e manejo para atender a demanda nutricional do solo.

(Matheus Henrique)

Outro momento de troca, em meio a tantos que emocionaram, foi o de Sandra Gurgel. Em sua fala a agricultora urbana abordou a importância de poder produzir seu próprio alimento neste período da pandemia e a contribuição desta prática para a saúde física e mental. – Fui experimentando, observando, produzindo mudas, e muitas dessas eram doadas aos vizinhos. Participei do Curso de Agroecologia da Cooperar e me comprometi em fazer uma horta em meu quintal onde tenho a honra de produzir brócolis, chicória, repolho, cenoura, batata doce, aipo e muito mais. 

“Eu fiquei feliz quando vi que na feira tinha umas cenouras bem parecidas com as que eu colhia”

Sandra Gurgel

É uma ação importante efetivar políticas que contribuam com o combate à fome, no avançar na educação das crianças, dos jovens e adultos e caminhar para que compreendam que é possível produzir alimentos saudáveis. E é justamente na área de alimentação que a nossa próxima participante se emociona em sua fala. Thayna Villa Real é permissionária no Programa de Hortas Comunitárias desde 2016. Relata que é um projeto que ela abraçou, e viu que dali com muita luta, alimentaria sua família, e coloca muito amor e orgulho em sua fala quando afirma que foi de sua horta que saíram os alimentos para a primeira sopa da filha. 

A horta comunitária do loteamento Manu Manuela, onde fica a área de produção de Thayna, é um programa municipal que atende a 33 famílias beneficiárias. As terras onde se encontram as produções deste programa já passaram por diversos períodos de enchentes, onde os permissionários perderam toda a produção, e o pensamento de desistir apareceu. A permissionária destaca que nesse processo de retomada e não desistência a Cooperar com suas ações de incentivo e formação foi a “roda” do Manu Manuela. “Se reerguer não é simples e as adversidades são persistentes e a equipe da Cooperar junto ao seu movimento estavam ali ao lado e perto nos impedindo de desistir”. 

Como destaque Thayna coloca que durante a Pandemia, com avanço da crise financeira, e que o acesso à terra com a possibilidade de produzir alimentos tanto para consumo, quanto para gerar renda,  começou a vender aipim, e a fazer bolo de aipim doce e para fritar, pasta de berinjela com pimenta biquinho, couve, cebolinha. E atualmente tem uma banca na Feira da Agricultura Familiar, que acontece junto com o Sábado Agroecológico, e tem sido um sucesso. 

Ressaltou a importância de avançar em programas como este, de usar terras públicas para a produção de alimentos. 

– “o MST é muito forte, fala que a Terra é a mãe de todos, e isso faz todo sentido”

Thayna Villa

A unidade de produção agroecológica Joaquín Piñero esteve representada na fala de Leonardo Schafer, um dos técnicos responsáveis por este ambiente produtivo que abriga sistemas de produção em Mandala, Aleias, Sistemas Agroflorestal (SAF). Neste ambiente ainda se desenvolve uma proposta de recuperação de áreas degradadas (RADs) que engloba ainda a manutenção da vegetação ciliar deste rico ambiente vivo, o Rio Padeco. Leonardo destaca a otimização do uso e ocupação do solo na produção das hortaliças neste espaço:

-“É um espaço de formação e disseminação de conteúdos que muitas vezes são frutos de experimentos que desenvolvemos aqui, recebemos grupos escolares e outros interessados”

Leonardo Schafer

A outra unidade de produção agroecológica que a Cooperar atua é a UPA Manu Manuela que teve sua implantação em 2016 em um terreno até então ocioso. Este relato foi dinamizado por Anna Carolina que em sua fala valoriza a transformação ocorrida neste ambiente que agora é produtiva e produz muito alimento. Em 2020 ocorre uma enchente assustadora e de muita perda produtiva. A administração municipal decide pelo aterramento do terreno com um solo sem precedentes conhecidos, o que estabelece o início do processo de recuperação deste ambiente produtivo de maneira agroecológica. Os passos iniciais para esta caminhada para restabelecer a vida naquele ambiente foi a adubação verde e a inserção de cultura de consumo de raízes para alimentação, em que foram colhidos 700 Kg de aipim. Só após um ano destes passos iniciais ocorre a inserção do cultivo de hortaliças já tendo ocorrido a primeira colheita. 

As edições dos sábados agroecológicos são organizadas em diversos espaços, que vão para além da roda de conversa, ocorre a distribuição de sementes agroecológica, distribuição/troca de mudas de diversas cultivares e, o apoio técnico, onde dúvidas sobre a produção de alimentos podem ser dialogadas com os agrônomos e técnicos da equipe que ali circulam. Durante o espaço de partilha fica fácil sentir o quanto as experiências e suas rememorações conduzem os modos agroecológicos constitutivos.

Feira da Agricultura Familiar no Sábado Agroecológico

Esta foi a terceira edição da feira da agricultura familiar integrada ao ambiente do Sábado Agroecológico. Nesta edição a participação de agricultores familiares foi ampliada chegando a 30 barracas, e com uma diversidade de produtos incluindo alimentos frescos e processados, artesanatos e mudas de plantas ornamentais. Feiras livres são espaços que fortalecem a comercialização de agricultores familiares, processadores e artesãos, e funciona também como um espaço de socialização.

Você já conhece a feira da Agricultura Familiar de Maricá? A próxima edição será em dezembro durante o Sábado Agroecológico.

Registo da Feria da Agricultura Familiar de Maricá Novembro. Foto: Ângelo Bernardelli / SECAPP

Próximas edições

Em dezembro, será a última edição dos Sábados Agroecológicos deste ano. A palestra é prevista para acontecer das 09:30 às 11:30 horas, fique atento a data nas redes sociais da Cooperar, da SECAPP e da Prefeitura de Maricá. Venha vivenciar conosco deste espaço de construção do conhecimento agroecológico.

O próximo tema do Sábado Agroecológico de Dezembro será Compostagem.

Quer saber como foi a primeira Edição que aconteceu em Outubro, confira no Instagram e na sessão de Notícias aqui no site da Cooperar.

Deixe o seu comentário sobre o Sábado Agroecológico, e para acompanhar as novidades acesse o site ou nos siga no Instagram @agroecologia_marica.

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